VENERAÇÃO A MÃE DE DEUS




Nas velhas cidades e nas regiões verdadeiramente católicas se encontra ainda por vezes, como restos de uma época de piedade filial e fé robusta, uma estátua da Mãe de Deus nas casas ou no vestíbulo.
            A arte cristã, pintura e plástica, criou para esse fim muitas imagens valiosas, linda­mente emolduradas. A piedade filial cerca­va a imagem de círios e flores.
            Aos sábados e nas festas de Maria tam­bém lhe punham às vezes em frente uma lam­parina ou candeia acesa. Era um belo costu­me. Nos lugares em que ainda existe este pie­doso hábito, tudo mostra que essa casa se acha sob a proteção especial da Mãe celeste e que os moradores A veneram e amam com filial e piedosa devoção.
            Feliz a família de que Maria é Padroei­ra e que como tal A honra. O amor e venera­ção à Mãe de Deus obriga o homem a seguir as pegadas de São José, o virginal protetor da puríssima Virgem.
            Ele deve por si mesmo tornar-se-lhe ca­da vez mais semelhante e governar sua casa em espírito cristão. Se a mãe de família é uma fiel e fervorosa devota da Santíssima Virgem há de procurar também lhe imitar o admirável exemplo de virtude. Há de comunicar-se, como por si mesmo, à mulher cristã aquele espírito de humildade, que lhe desvia os olhos do tumulto exterior do mundo, para volvê-los ao interior do lar, que a forti­fica, para levar uma maravilhosa vida de amor e sacrifício, de abnegação no silencio da vida oculta, que a torna uma verdadeira men­sageira de paz, de alegria e de benção no lar doméstico.
            A própria gratidão já obriga a mulher e a mãe a devotar-se a Maria.
            Toda a consideração de que a mulher hoje goza, a libertação do indigno cativeiro, a posição que ocupa na sociedade humana, deve à Mãe de Deus.
            Por dia e nela a mulher é enobrecida. Um reflexo da beleza e bondade da Virgem Santíssima cai sobre cada mulher; nem ao menos se apaga de todo na mulher decaída, esque­cida de sua dignidade, como o sol também se espelha ainda nas águas lodosas.

            Do que o cristianismo sente pela mulher, de quanto era considerada particularmente na piedosa Idade-Média, é testemunha um fato da vida de Henrique Suso (nascido em 1295, em Constança). Diante de uma po­bre mulherzinha, que encontra numa estreita pinguela, ele, o grande e festejado sábio, re­cuou, deixando-a respeitosamente passar adiante, porque, como todos os homens e cava­lheiros de seu tempo, via nela uma “irmã” da graciosa Virgem Mãe de Deus. É esse ainda sempre o alto valor que o sentimento cristão dá à mulher. Não devia toda mulher ser grata a Maria por toda a vida?
            À estima exterior deu a veneração de Maria também um fundamento interior pro­fundo; pois do modelar exemplo da Santa Mãe de Deus se originaram para a mulher valores espirituais sempre novos. Da venera­ção desta Santa Virgem e amável Mãe hauriu ela sempre fortes impulsos, constantemente renovados, para vencer no mundo o mal e a violência e curar com mãos delicadas e compassivo amor as chagas que a for­ça e o arbítrio do homem tantas vezes abriu na sociedade. Épocas inteiras gozaram mes­mo por vezes da influência decisiva de mulhe­res que imitaram fielmente a Maria e deixa­ram, nesses tempos abençoados, vestígios pro­fundos de sentimentos benfazejos e caridade cristã. E quando as mulheres renunciam ao seu ideal e esquecem a sua dignidade, como Isabel a infeliz Rainha da Inglaterra, filha de Anna Bolena, então se tornam sem dúvida uma maldição para o mundo e para o próximo. — Vê-se, pois, que a muitos respeitos a dignidade da mulher e o bem da humanidade nos são dados com Maria.
            Também sobre as crianças, sobretudo so­bre a mocidade, a veneração de Maria produz o mais salutar efeito.

            Que pode concorrer mais para completar a personalidade, de que tanto hoje se fala, pa­ra aperfeiçoamento do homem interior, do que a influência da Imaculada, e ao mesmo tem­po forte e poderosa Virgem? Não é de admirar! — Pois se Ela é a branca neve da verda­deira castidade, oceano inesgotável de gra­ças, a bela flor da amendoeira, que a geada do pecado jamais atingiu, como a denomi­nam tão significativamente os poetas da Idade Média Gottfried de Strassburgo e Conrado de Würzburg!
            De Maria, a pura, e imaculada Virgem, manou aquele espírito da mais delicada pure­za e castidade, que adorna mais a fronte da virgem cristã do que todo o ouro e diademas preciosos. Quando Sua doce imagem se im­prime num jovem coração, daí desaparecem atrativos para o mal, afasta-se antes de tudo o pecado impuro, como a raça das serpentes foge dos raios do sol.
            Milhares dos que caíram no combate, n’Ela se ergueram de novo. Um olhar para a Virgem bastava para reanimar de novo a co­ragem enfraquecida, extinguir no peito o fogo mais ardente.
           

Inúmeros outros por meio dele con­quistaram a palma da pureza imaculada. Nela, “a mulher imaculada” (Heliand), se apresenta diante da alma do rapaz e do homem, a nobreza feminina na sua forma mais sublime, forçando-os a respeitarem a dignida­de e a honra da mulher e por amor desta bendita Virgem, elevarem-se ao varonil respeito de si mesmos. Guilherme de Humboldt disse uma vez que quem durante muito tempo vive ao lado de um caráter todo puro e verdadei­ramente grande, de certo se lhe passa como que um sopro daquele salutar contato. Tem razão. Pureza sugere pureza. O próprio ho­mem dissoluto não lhe pode recusar o respeito.

            A alma semelhante, porém, acolhe os sentimentos nobres e grandes, como a corda do instrumento começa a tremer quando se move uma outra da mesma tonalidade. Se um de nós já age deste modo sobre os outros, co­mo deve então enobrecer os homens o cons­tante convívio com Maria a “puríssima, dul­císsima Esposa de Deus”, que não tem igual, como deve dignificá-los a elevação do cora­ção para Ela!

            Sim, “o desprezo da mulher sempre veio de baixo e arrastou para baixo, veio do pecado, e impeliu ao pecado. A veneração des­ta mulher celeste, na qual todas as outras são de novo enobrecidas, provem do alto e atrai para o alto” (Könn), afasta-nos da ter­ra e levá-nos a esferas, em que nos aproximamos da semelhança divina. É o que faz Maria. Diante d’Ela se calam as potências das trevas e fecha-se o abismo.
           
            “Não reina mais o abismo, pois Maria o derrubou
            Jaz a Seus pés, pois que o venceu.
            É justo, pois, que A louvem todos."
            (Canção da Proc. Marian. de Reggio 1674)

            Poderias dar coisa melhor a teu filho ou a tua filha, no caminho da vida, do que um profundo e terno amor à Mãe de Deus? Com isto lhes dás ao mesmo tempo uma pura e áu­rea mocidade e quem a possui, tem a maior, a, mas íntima felicidade, uma paz espiritual verdadeiramente preciosa.
            Ela é a aurora de um belo dia, o capital que não se pode perder, de que ainda se vive na velhice. Não constitui isso também para os pais uma fonte da mais pura felicidade? Só olhar para uns inocentes olhos infantis já nos torna felizes. Entra-nos pela alma a dentro como a luz e o esplendor de um outro mundo mais belo.

            Nenhum reino o iguala em valor e beleza. E este imenso tesouro pertence ao pai e à mãe. Não é uma alegria e felicidade? — Não sei também onde o amor aos pais e irmãos possa ser mais terno e mais forte do que num coração puro, incorrupto.

            Como tudo quanto é moralmente grande e belo, esse amor só pode medrar e arraigar-se profundamente no solo fecundo de um co­ração puro.
            Quando, porém, o prazer sensual se apossa de um jovem coração, aí morre tudo quanto é realmente nobre, bom e belo, aí verão em breve os pais como os mais caros laços se despedaçarão e nada mais será sa­grado para o filho.
            Infeliz efeito do pecado impuro! Mes­mo as lágrimas que arrancam aos olhos da mãe não serão mais respeitadas, nem mais as chagas profundas que lhe abrem no coração, nem o desgosto e a angústia mortal que causam aos pais, a quem outrora amavam terna­mente e tratavam com todo o respeito.
            Quem faz questão, pois, de conservar o amor dos filhos, fará bem em implantar profundamente no coração infantil a devoção e o amor à Mãe de Deus e confiar o filho à Virgem e Mãe do belo amor. Dá-lhe uma criatura humana e d’Ela recebe em troca um Anjo de amor e pureza. Todas as belas fes­tas de Maria, o delicioso mês de Maio e o de Outubro, mês do Rosário, finalmente todos, os sábados oferecem para isso ocasião oportuna.
            Causa alegria ver como as crianças por toda a parte, com um pequeno incitamento, com prazer caminham nessa direção e com santa emulação adornam de coroas e flores a imagem da querida Mãe de Deus. — Ainda que as coroas possam murchar, a impressão e a bênção da Mãe celeste permanecem. Ma­ria anda com a criança!

Franbezant, OFMConv.

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