"Animados pela fé" (Meditações Paulinas, 1 Tes 3)



Hoje adentramos ao terceiro capítulo da carta de São Paulo aos Tessalonicenses. Nos versículos 1-2, Paulo fala de sua estadia em Atenas, juntamente com Silas, e do envio que faz de Timóteo, se estreito colaborador. 

No versículo terceiro Paulo descreve como que uma realidade das perseguições que deveríam suscitar-se contra a Igreja por meio daqueles que repudiavam-na, e repudiavam o seu Fundador. Por isso, ele escreve explicando o objetivo do envio de Timóteo: “Para que ninguém desfaleça nestas tribulações. Pois bem sabeis que para isso é que fomos destinados. Quando estávamos convosco já dizíamos que haveríamos de passar tribulações; foi o que aconteceu, como sabeis” (v. 3-4). Tribulação! Perseguição! Tais palavras dilaceram nosso espírito e nos incitam, diversas vezes, a desistirmos da caminha cristã e a desistirmos do sofrimento como algo que não nos dará nenhum valor e nada nos ensinará.

Na verdade, tais pessoas que assim pensam, também não vivem de acordo os ensinamentos evangélicos. Se o sofrimento fosse em vão, também em vão seria o sofrimento de Cristo. O sofrimento esvaziar-se-á de seu sentido sempre que tentamos restringí-lo a esse mundo; sempre que o limitamos a vê-lo como uma barreira para o progresso material. Alcança maior glória quem bem sabe sofrer e suporta todas as tribulações com amor e paciência em Cristo, sabendo que não lhe será em vão. Sofre bem quem sofre com Cristo; sofre mal quem se apega a este materialismo mundano e esquece-se de Cristo. Este não mais sofre para o bem, senão sofre porque sente-se vazio e em nada ser-lhe-á frutífero assim sofrer. Bem dirá São João da Cruz, místico e Doutor da Igreja, cuja memória ontem celebramos: "Não fujas dos sofrimentos, porque neles está a tua saúde".

Mas, voltemos ao texto paulino. Dissemos noutro dia, que a Igreja sempre foi e será perseguida. Não obstante o maravilhoso trabalho que tem realizado, a perseguição não diminui e o que incomoda é o Evangelho que a Igreja transmite, a Palavra de Deus encarnada, o Logos. Ora, porventua estaria o Evangelho exercendo seu papel se ele não incomodasse? Porventura estaria a Igreja exercendo seu papel se ela não arranhasse os pecados e as ideologias que buscam prevalecer em certos corações? Seja grande o Deus que incomoda! Seja adorado o Deus que não “respeita” o pecado, mas o destrói pelo precioso Sangue Redentor de Seu Filho Unigênito .

Por isso – continua o apóstolo –, não podendo mais suportar, mandei colher informações a respeito de vossa fé, temendo que o Tentador vos tivesse seduzido, inutilizando o nosso trabalho” (v. 5). Em um primeiro momento, ao lermos este texto, parece-nos que Paulo está preocupado não tanto com a comunidade, mas com o seu trabalho que tornar-se-ia em vão.

Ora, afirmamo-vos que mais estava Paulo preocupado com a comunidade e sua fé, do que com sua fama e trabalho; pois um servo de Jesus Cristo não deve procupar-se com com o que os outros irão pensar dele, mas o que Deus cobrará dele. O que os outros pensarão caso ele não cumpra o trabalho que foi-lhe confiado. 

E por que Paulo se preocupa com a fé daquela comunidade? Ora, não precisamos avançar muito para logo acharmos o centro do texto. Onde, pois, pode subsistir a alegria de uma comunidade senão na fé? Uma alegria que não se fundamente na fé torna-se vazia e sem sentido. Uma alegria que não tenha Cristo no centro não dá expectativas escatológicas ao homem, mas faz com que ele limite-se com o que hoje vive. Fundamentar-se em falsas alegrias significa abster-se da verdadeira e única alegria que é Cristo. E a pergunta é: Em que nos alegramos? Em Cristo, que deve ser o único e verdadeiro motivo da nossa alegria; ou neste mundo, invólucro de mentiras e que dá-nos uma falsa concepção de esperança? Acaso foi na esperança do mundo que fomos salvos ou na esperança de Cristo? 

Não foi na fé de Cristo que encontramos repouso? Por isso no sétimo versículo Paulo diz: “Meus irmãos, a vossa fé nos consolou, em meio a muita angústia e tribulação. Agora estamos reanimados, porque estais firmes no Senhor” (vv. 7-8). Triste é ver que muitos não mais se consolam no Senhor, mas nos prazeres efêmeros deste mundo. Há pois consolação onde só se ver destruição e ócio? Não! Não há! Mas há consolo naquele que sempre está disposto a acolher-nos. Há consolo naquele que jamais abandona seus filhos e os entrega às superficialidades. 

Devemos dar alegria ao Senhor! Sejamos o motivo de sua alegria! Não há alegria onde há tristeza. Só pode haver alegria onde há alegria! Em Deus há alegria! Seja Deus o motivo de nossa alegria, e sejamos o motivo da alegria dele.

“A vós, porém, o Senhor faça crescer e ser ricos em amor mútuo e para com todos os homens, a exemplo que nós vos temos. Queira ele confirmar os vossos corações numa santidade irrepreensível, aos olhos de Deus, nosso Pai, por ocasião da Vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos” (vv. 12-13).

Crescer e ser ricos no amor mútuo. O amor nasce na comunidade, mas deve chegar a todos os homens, mesmo aqueles que não crêem em Deus. Não importa o tamanho da  comunidade, o que importa é que ela viva contrita ao Evangelho. O verdadeiro valor de uma comunidade não está na quantidade. Cresce-se muito, torna-se pior. Porém, ainda que seja pequena e esteja unida ao Evangelho, esta comunidade tornar-se-á cada vez melhor.

Confirmar os corações! Também esta missão foi destinada a Igreja, na figura de Pedro, pelo próprio Senhor, ao afirmar: “Confirma fratres tuos – Confirma os teus irmãos” (Lc 22,32). Confirmar-nos também em santidade. “Sede santos!” Um clamor das Escrituras Sagradas. Todos somos chamados à santidade, mas ninguém pode ser santo por si só, se não se confiar a Deus. E esta santidade nos há de dirigir para o salvífico encontro com Cristo na sua vinda. Vinda esta que dar-se-á com todos os seus santos. Ora, não nos mostra Paulo, há dois mil anos, que deve existir a santidade? Que precisamos de santos em nossos dias? 

Louvemos a Deus pelo admirável testemunho dos Santos; os eleitos que virão na glória do Senhor. É importante apenas esclarecer que Santos podem ser os eleitos, os que se salvam ou os anjos; como também todos nós, chamados à santidade. Em outras traduções de algumas bíblias se diz ao invéz de santos: Todos aqueles que são dele. Essa afirmação cai por terra ao sabermos que todos são de Deus, mas nem todos são chamados a santidade, não porque não podem, mas porque não querem.
Como bem ressaltou João paulo II, falando da santidade: 

"A Igreja Católica sempre acreditou que desde os primeiros tempos do cristianismo os Apóstolos e os Mártires em Cristo estão unidos a nós mais estreitamente, venerou-os particularmente juntamente com a bem-aventurada Virgem Maria e os Santos Anjos, e implorou devotamente o auxílio da sua intercessão. A eles se uniram também outros que imitaram mais de perto a virgindade e a pobreza de Cristo e além disso aqueles cujo preclaro exercício das virtudes cristãs e dos carismas divinos suscitaram a devoção e a imitação dos fiéis. (...) Sé Apostólica (...) propõe homens e mulheres que sobressaem pelo fulgor da caridade e de outras virtudes evangélicas para que sejam venerados e invocados, declarando-os Santos e Santas em ato solene de canonização, depois de ter realizado as oportunas investigações." (João Paulo II, Const. Apost. Divinus perfectionis Magister).
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