São João da Cruz
São João da Cruz nasceu em 1542 em Fontiveros, província de Ávila, na Espanha. Seus pais se chamavam Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se casado com uma jovem de classe "inferior" foi deserdado por seus pais e tornou-se tecelão de seda.
Em 1548, a família muda-se para Arévalo. Em 1551 transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado do diretor do Hospital de Medina del Campo. Sua infância não foi fácil. Antes mesmo de completar 10 anos de vida, perdeu o pai e o irmão Luís.
Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas. Ingressou na Ordem dos Carmelitas aos vinte e um anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo. Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre 1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca. Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa.
Infelizmente, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os conventos carmelitas. Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado. Em setembro de 1567 encontra-se com Santa Teresa, que lhe fala sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos padres. O jovem de apenas vinte e cinco anos de idade aceitou o desafio. Trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesus Heredia, inicia a Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo fundador maus tratos físicos e difamações. Em 1577 foi preso por oito meses no cárcere de Toledo. Nessas trevas exteriores ascendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual. "Padecer e depois morrer" era o lema do autor da "Noite Escura da alma", da "Subida do monte Carmelo", do "Cântico Espiritual" e da "Chama de amor viva".
A doutrina de João da Cruz é plenamente fiel à antiga tradição: o objetivo do homem na terra é alcançar "Perfeição da Caridade e elevar-se à dignidade de filho de Deus pelo amor"; a contemplação não é um fim em si mesmo, mas deve conduzir ao amor e à união com Deus pelo amor e, por último, deve levar à experiência dessa união à qual tudo se ordena". "Não há trabalho melhor nem mais necessário que o amor", disse o Santo. "Fomos feitos para o amor". "O único instrumento do qual Deus se serve é o amor". "Assim como o Pai e o Filho estão unidos pelo amor, assim o amor é o laço da união da alma com Deus.
O amor leva às alturas da contemplação, mas como o amor é produto da fé, que é a única ponte que pode salvar o abismo que separa a nossa inteligência do infinito de Deus, a fé ardente e vívida é o princípio da experiência mística. João da Cruz costuma pedir a Deus três coisas: que não deixasse passar um só dia de sua vida sem enviar-lhe sofrimentos, que não o deixasse morrer ocupando o cargo de superior e que lhe permitisse morrer humilhado e desprezado.
São João da Cruz é um místico amadurecido no sol do sofrimento, provado por Deus através de noites da fé; não compreendido pelos homens. O que ele diz traz o carimbo da experiência pessoal, não se deixa influenciar com facilidade pelas circunstâncias ou se amedrontar diante de um futuro que aparece grávido de sofrimentos... É na monotonia da vida, nas feridas abertas pelas incompreensões, que desabrocha a santidade do primeiro Carmelita Descalço, severo e exigente consigo mesmo, terno e delicado com os que o circundam
Faleceu no convento de Ubeda, aos quarenta e nove anos, no dia 14 de dezembro de 1591, após três meses de sofrimentos atrozes. A primeira edição de suas obras deu-se em Alcalá, em 1618. No dia 25 de janeiro de 1675 foi beatificado por Clemente X. Foi canonizado e declarado Doutor da Igreja por Pio XI. Em 1952 foi proclamado "Patrono dos Poetas Espanhóis".
Talvez a mais bela e completa descrição física e espiritual do Santo Fundador tenha sido feita por Frei Eliseu dos Mártires que com ele conviveu em Baeza: "Homem de estatura mediana, de rosto sério e venerável. Um pouco moreno e de boa fisionomia. Seu trato era muito agradável e sua conversa bastante espiritual era muito proveitosa para os que o ouviam. Todos os que o procuravam saíam espiritualizados e atraídos à virtude. Foi amigo do recolhimento e falava pouco. Quando repreendia como superior, que o foi muitas vezes agia com doce severidade, exortando com amor paternal... Santa Teresa de Jesus o considerava "uma das almas mais puras que Deus tem em sua Igreja”. Nosso Senhor lhe infundiu grandes riquezas da sabedoria celestial. Mesmo pequeno ele é grande aos olhos de Deus. Não há frade que não fale bem dele, porque tem sido sua vida uma grande penitência. Poucos homens falaram dos sublimes mistérios de Deus na alma e da alma em Deus como São João da Cruz.
O amor consiste em despojar-se e desapegar-se, por Deus, de tudo o que não é ele.
O amor é a união do Pai e do Filho: e assim é a união da alma com Deus.
Embora a alma tenha altíssimas revelações divinas, a mais elevada contemplação, a ciência de todos os mistérios… Se lhe falta amor, de nada lhe servirá para unir-se a Deus.
Deus só coloca sua graça e predileção numa alma, na medida da vontade e do amor da mesma alma.
O olhar de Deus é amar e conceder favores.
Quando a alma se acha livre e purificada de tudo, em união com Deus, nenhuma coisa poderá aborrecê-la. Daqui se origina para ela, neste estado, o gozo de uma contínua suavidade e tranqüilidade, que ela nunca perde nem jamais lhe falta.
Como a alma já possui, enfim, perfeito amor, é chamada Esposa do Filho de Deus.
Tal é a alma que está enamorada de Deus. Não pretende vantagem ou prêmio algum a não ser perder tudo e a si mesmo, voluntariamente, por Deus, e nisto encontra todo o seu lucro.
Não basta que Deus que nos ame para dar-nos virtudes; é preciso que, de nossa parte, também o amemos, a fim de podermos recebê-las e conservá-las.
É próprio do perfeito amor nada querer admitir ou tomar para si, nem se atribuir coisa alguma, mas tudo referir ao Amado. Se nos amores da terra é assim, quanto mais no amor de Deus.
Para Deus, amar a alma é de certa maneira integrá-la em si mesmo, igualando-a consigo; ama, então, essa alma, nele e com ele, com o próprio amor com que se ama.
O olhar de Deus produz na alma quatro bens, isto é, a purificam, a favorecem, a enriquecem e a iluminam. É como o sol que, dardejando na terra os seus raios, seca, aquece, embeleza e faz resplandecer os objetos.
Não fujas dos sofrimentos, porque neles está a tua saúde.
Amado meu, tudo o que é difícil e trabalhoso o quero para mim, e tudo o que é suave e saboroso o quero para ti.
Na união com o Amado, à alma verdadeiramente se rejubila e louva a Deus, com o mesmo Deus, e assim este louvor é perfeitíssimo e muito agradável a ele.
Oh, que bens serão aqueles que gozaremos com o olhar da SANTÍSSIMA TRINDADE!
Deus quer mais de ti um mínimo de obediência e docilidade do que todas as ações que realizas por ele.
O falar distrai e o silêncio na ação leva ao recolhimento e dá força ao espírito.
Nenhuma representação ou imaginação serve de meio próximo para a união com Deus; portanto, deve a alma despojar-se de todas elas.
Aprendam a permanecer em Deus, com atenção amorosa, com calma, sem se preocuparem com a imaginação e com as imagens que ela forma. Assim, as faculdades descansam e não atuam; recebem passivamente a ação divina.
Grande mal é olhar mais para os bens de Deus do que para o próprio Deus. Ele pede oração e despojamento.
Ao que está desprendido, não lhe pesam cuidados, na hora da oração ou fora dela.
Para entrar no caminho do espírito (que é a contemplação) deve a pessoa espiritual deixar o caminho da imaginação e da meditação sensível.
O Senhor se comunica passivamente ao espírito, assim como a luz se comunica passivamente a quem não faz mais que abrir os olhos para recebê-la.
É humilde quem se esconde no seu nada e sabe abandonar-se em Deus.
Fontes: http://www.carmelo.com.br/default.asp?ml1=6&ml2=1&ml3=0
cancaonova.com
http://www.comshalom.org/
http://www.igrejascatolicasorientais.com/
João da Cruz, São. Obras completas. 2ª ed. Petrópolis: Vozes e Carmelo Descalço do Brasil, 1988.
Sgarbossa, Mario e Giovannini, Luigi. Um santo para cada dia. 4ª ed. São Paulo: Paulus, 1996.
Gabriel Canedo - Comunidade Parresia
José Francisco - Comunidade Parresia
font:http://comunidadeparresia.blogspot.com/2010/12/sao-joao-da-cruz.html
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